São tempos difíceis, nós sabemos. O isolamento social, medo da Covid e acesso à vida de familiares e amigos apenas através de chamadas de vídeo e redes sociais vem desencadeando uma série de crises de ansiedade e doenças psicológicas variadas.
Como forma de alerta e prevenção, convidamos a psicóloga e analista comportamental Mariucha Andrade para uma entrevista sobre o novo terror dos consultórios: a Síndrome de FOMO, sigla da expressão em inglês “fear of missing out”, que, em português, significa “medo de ficar de fora”.
O problema é caracterizado pela necessidade constante de saber o que outras pessoas estão fazendo e é desencadeado, na grande maioria das vezes, pelo acesso constante às “vidas perfeitas” retratadas nas redes sociais, especialmente no Instagram. Com isso, a síndrome é associada a sentimentos de ansiedade, que impactam atividades diárias comuns e até a produtividade no trabalho.
Como identificar a FOMO? Quais os principais sintomas?
Nessa síndrome a pessoa se sente angustiada e ansiosa principalmente quando acessa as redes e se observa como se não pertencesse a um grupo ou nunca conseguisse conciliar sua vida para estar presente em situações com esse grupo.
Dessa forma, ela começa a se sentir “vazia”, invalida suas escolhas e conquistas pessoais, conclui que nunca faz coisas interessantes e fica constantemente de “expectadora”, aumentando sua própria frustração.
Qual o tratamento?
Se você se identifica com esses aspectos, o ideal é procurar ajuda psicológica. A principal mudança de mentalidade que sugiro, de imediato, é aceitar seus próprios processos de vida, assumir suas escolhas e vivê-las da melhor maneira.
Aproveite pequenos momentos com qualidade, comemore suas vitórias pessoais com carinho e faça um “detox” das redes sociais, limitando horários para essa atividade.
Na sua opinião, o isolamento e a pandemia fizeram com que os casos aumentassem?
A vivência se tornou engessada para muitas pessoas. Enquanto alguns conseguiram lidar bem, dentro de suas limitações, outros se sentem emocionalmente esgotados.
O que normalmente acontece é que as pessoas com essa síndrome acabam hipervalorizando as conquistas alheias e fantasiam que tudo que os outros postam é perfeito e que o “perfeito” não é para elas. Ou seja, a pessoa com Síndrome de FOMO fica ansiosa para se atualizar o tempo todo, o que faz com que ela gaste grande parte do seu dia nas redes sociais e acabe evitando ou perdendo momentos.
Acredita que essa síndrome pode se tornar o novo “mal do século”, a longo prazo?
Sim. Sabemos que esse mundo virtual está em constante evolução e crescimento, falamos muito de engajamento e acreditamos que tudo o que precisamos encontrar está lá. Tendo isso em vista, muitos acreditam que o que não está no virtual não existe.
Esse foi o principal mote do exacerbado movimento de fake news que inclui, exclui e movimenta tribos, às vezes de maneira prejudicial a grupos que existam no mundo presencial.
Se a sociedade não estiver pronta emocionalmente para entender que a vida real não estará postada nas redes e que é necessário muito mais que estar conectado para viver plenamente, nosso futuro estará fadado à Síndrome de FOMO.